Representatividade pra quem?


Em qualquer canto dessa internet você vai encontrar as palavras "representatividade" e "empoderamento". Não tem pra onde fugir. Elas estão lá como um alerta sobre os novos tempos. Alguns vão dizer que o mundo está ficando chato, outros vão aplaudir e colocar a plaquinha da perfeição em tudo que aparecer, sem questionar nada. 

Todo mundo sabe que a publicidade mudou, assim como a forma de vender um produto ou serviço. Uma marca existe para que haja lucro, se isso não ocorrer não há motivos para existir. Marcas não vivem de aplausos, muito menos de "lacração" na internet. Então por que acreditamos, ingenuamente, nessa falácia do empoderamento e da representatividade?

É roupa sem gênero, maquiagem sem gênero, loja de roupas criando campanhas plus size sem uma mulher gorda de verdade e agora até a revista masculina mais famosa do mundo terá uma gorda na capa. Revolucionário? Não, eu diria. As marcas só viram uma oportunidade de lucro e estão criando campanhas geniais para vender empoderamento.

Empoderamento não depende de uma camiseta com frase motivacional estampada, da foto sensual no espelho ou daquele batom poderoso que você comprou. Ninguém se empodera dessa forma. É como passar maquiagem de manhã e tomar banho à noite, tudo sai na água. Empoderamento vem de dentro, é a construção da sua autoestima, com suas convicções, buscando conhecimento e reconhecimento pessoal. Você não precisa de likes na sua foto nem da aprovação das marcas para ter seu valor. 

O que pra nós significa luta, para as marcas são simples nichos de mercado que geram lucro, porque tá na moda ser empoderada. E nós estamos lutando para ver qual corpo vende mais. 

Devemos lembrar que o feminismo não pode ser individualista, não é somente sobre "meu corpo minhas regras". É necessário discutir certas questões, mesmo que seja problematizando as ações das próprias mulheres. Sem essa autoanálise qual é o sentido da nossa luta? Se o seu feminismo só serve para alimentar o capitalismo e o famoso patriarcado, se ele não incomoda e não provoca, então volte duas casas. Feminismo é para nos libertar de nossas correntes, não escolher qual a algema mais bonita para nos prender.

Uma observação: recortes são necessários e a representatividade para a mulher negra pode ser diferente. Caso você seja negra e queira contribuir para o assunto aqui no blog, escreva para blogalternativagg@gmail.com


4 Comentários

  1. Li uma postagem sua no Instagram sobre feminismo,aquela imagem do banheiro todo pichado...falei meses atrás com meu marido sobre esse mesmo conceito que você mencionou com o uso daquela imagem.Penso na minha mãe,que nos educou sozinha e que trabalhou anos como cozinheira e doméstica,como dou valor a quem tem essas profissões, e como meu irmão mais velho é mais presente na vida da minha sobrinha do que meu pai foi pra nós.Como tu disse empoderamento é construção de auto estima,é construção de valores descentes que vão ser passados a diante.
    E concordo,o feminismo tem que discutir sim ações das próprias mulheres...mudar o outro sem fazer a mudança valer em nós mesmas é o mesmo que nada.

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  2. Sempre que vejo uma marca "inovando" na forma de vender, penso nisso e não vou me animando logo de cara. Mudanças reais são mais difíceis e demoradas, nada é tão simples quanto uma marca mudar de uma hora pra outra sua política de venda!
    Parabéns pela abordagem! Um beijo!!

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  3. ~Tenho problemas em lidar com esse mundo consumista em que estamos expostos. É um tal de preciso ter, preciso ter.
    A representatividade deve ser feita no dia a dia, tirando a personagem gorda e engraçada da tv e dando espaço para a gorda, phd e cientista. Além, de não precisar sexualizar a mulher gorda (que já é sexualizada como famigerada no sexo) em revistas que vendem o sexo.
    Se eu for ficar falando, vai sair um texto aqui que seria só tiro.
    Seu post é maravilhoso, vou proteger até a morte e quero colar na testa! Obrigada por essa leitura <3
    Prosperidade!
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  4. Excelente texto, como sempre!
    Eu só tenho uma ressalva. Concordo que as marcas só fazem isso pelo lucro e que ser empoderada/feminista não é usar uma blusa com a frase GRL PWR, por exemplo, mas com as marcas vendendo esse tipo de coisa, principalmente marcas mainstream, é uma forma da mensagem chegar a grande massa. Agora o que as pessoas precisam fazer é receber a mensagem e ir atrás de mais. Principalmente ir atrás de repensar seus hábitos e mudá-los se for preciso.
    Mas o foda disso tudo é que as marcas também acabam esvaziando o sentido de tudo que fazem apenas para o lucro. Então é uma faca de dois gumes. Na verdade, se eu for tentar discutir isso eu faço outro texto.. rs
    Vivemos em um mundo consumista e essa é nossa atual realidade. A gente pode ir contra sim, inclusive devemos questionar mais as coisas, mas não dá pra negar o quanto isso influencia na vida das pessoas de uma forma geral. Que pelo menos sirva pra ser uma porta para as pessoas buscarem mais do que apenas blusas com frases da moda e likes na rede social.
    bjin

    http://monevenzel.blogspot.com.br/

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